SEVILLA 26 nov. (EUROPA PRESS) -
O crescimento do tráfego marítimo global representa "ameaças crescentes" à biodiversidade marinha, como poluição, colisões com navios e distúrbios no comportamento das espécies. Nesse contexto, uma equipe científica liderada pela Universidade do Algarve (Portugal), com a participação da Estação Biológica de Doñana, revelou uma cobertura "insuficiente" das Áreas Marinhas Protegidas e destacou a "necessidade de intensificar as medidas de conservação".
De acordo com o CSIC em uma nota, a pesquisa, publicada na Biological Conservation, detalhou a análise realizada em todo o mundo, na qual foram identificadas regiões onde a alta biodiversidade coexiste com uma atividade marítima intensa ou escassa. Cerca de 90% das mercadorias do comércio internacional são transportadas por via marítima. Além de sua importância econômica, essa atividade é "crucial" para a segurança alimentar, a distribuição de energia e o acesso a bens essenciais.
"No entanto, seus efeitos sobre a biodiversidade marinha são extensos e graves, especialmente em animais de grande porte, como cetáceos, focas, leões-marinhos, tartarugas e aves marinhas", observam os autores no artigo. Para entender melhor como e onde esses impactos ocorrem, a equipe identificou regiões onde a alta riqueza de espécies coincide com alta, baixa ou nenhuma densidade de tráfego marítimo.
As primeiras, que eles denominaram Áreas Prioritárias de Mitigação, concentram-se principalmente em áreas costeiras, especialmente no Pacífico central, no sul do Oceano Índico e no Atlântico Sul. As últimas, identificadas como Áreas de Preservação Prioritária, estão localizadas principalmente nas altas latitudes do hemisfério sul, onde a presença humana é menor, mas a biodiversidade é alta.
As áreas sem tráfego marítimo estão limitadas, em grande parte, às regiões polares e às áreas oceânicas remotas. Entretanto, apenas uma pequena parte dessas três regiões identificadas tem alguma forma de proteção. No geral, em áreas sem tráfego marítimo, as Áreas Marinhas Protegidas cobrem apenas 12%. As Áreas Prioritárias de Preservação, onde a biodiversidade é alta e o risco de tráfego é baixo, são protegidas em 15%, enquanto as Áreas Prioritárias de Mitigação, onde o tráfego marítimo e a biodiversidade se sobrepõem mais fortemente, são protegidas em 16%.
Da mesma forma, as regiões com proibição total de atividades extrativistas, como a pesca, são ainda mais raras. Em áreas sem tráfego marítimo, elas atingem 6,8%, em Áreas de Preservação Prioritária 9,5% e em Áreas de Mitigação Prioritária 5,6%. "Esses dados mostram lacunas importantes na proteção da biodiversidade marinha e destacam a necessidade de fortalecer as medidas de conservação e o planejamento do tráfego marítimo em escala global", explicou Marcello D'Amico, pesquisador do EBD- CSIC.
O estudo estabeleceu as bases para a definição de políticas para enfrentar os desafios ecológicos do transporte marítimo e para ajudar a atingir a meta 30x30, que visa proteger 30% das áreas marinhas até 2030. "A identificação de áreas com baixa atividade marítima e áreas onde a biodiversidade coincide com a alta densidade de tráfego fornece uma base objetiva para orientar o planejamento espacial marinho e as decisões de gerenciamento", disse D'Amico.
Os pesquisadores aconselharam a designação oficial de áreas com pouco ou nenhum tráfego marítimo e alta biodiversidade, e a priorização de sua integração à rede de Áreas Marinhas Protegidas. No caso de áreas com intensa atividade marítima, eles propõem estratégias específicas para mitigar seus impactos, como a redução da velocidade, que, na opinião deles, pode reduzir o ruído subaquático e o risco de colisão, e a otimização das rotas marítimas para evitar as áreas mais sensíveis.
Esse trabalho faz parte de uma linha de pesquisa "mais ampla" do EBD-CSIC que estuda como as infraestruturas afetam a biodiversidade. Essa experiência possibilitou a transferência do conhecimento adquirido sobre os impactos terrestres para o ambiente marinho, promovendo a ideia de considerar o tráfego marítimo como outra forma de infraestrutura com efeitos ambientais significativos.
"Queremos destacar o valor desse trabalho como um exemplo de como as estruturas conceituais desenvolvidas na ecologia terrestre podem ser aplicadas com sucesso ao ambiente marinho. Essa integração entre disciplinas nos permite abordar de forma mais abrangente os impactos do transporte sobre a biodiversidade, independentemente do ambiente em que ocorrem", disse ele.
Além disso, o estudo reforçou a importância da colaboração internacional e do uso de dados globais abertos para avançar em direção a um "gerenciamento oceânico mais coerente e sustentável", concluiu D'Amico. O Centro de Ciências Marinhas do Algarve, a Universidade do Norte, a Universidade de Évora e a Universidade de Lisboa também colaboraram com o estudo.
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