Publicado 27/10/2025 16:04

Pesquisadores descobrem a possível causa da crescente polarização

Archivo - Arquivo - Três bandeiras (da Espanha, França e Israel) queimadas durante a manifestação convocada pela CUP, em 11 de setembro de 2025, em Barcelona, Catalunha (Espanha). A convocação da CUP colocou o foco na "reivindicação de uma proposta pró-in
Lorena Sopêna - Europa Press - Arquivo

MADRID 27 out. (EUROPA PRESS) -

Um estudo realizado pelo Complexity Science Hub (CSH), na Áustria, analisa as possíveis causas da polarização ideológica e política que é generalizada no mundo ocidental. A pesquisa foi publicada na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)".

Entre 2008 e 2010, a polarização social aumentou drasticamente junto com uma mudança significativa no comportamento social: o número de contatos sociais próximos aumentou de uma média de duas para quatro ou cinco pessoas. A conexão entre esses dois desenvolvimentos poderia fornecer uma explicação fundamental para o fato de as sociedades de todo o mundo estarem se fragmentando cada vez mais em bolhas ideológicas.

"A grande pergunta que não apenas nós, mas muitos países, estamos fazendo atualmente é por que a polarização aumentou de forma tão drástica nos últimos anos", diz Stefan Thurner, do Complexity Science Hub (CSH), explicando a motivação para o estudo.

As descobertas dos pesquisadores confirmaram que o aumento da polarização não é apenas percebido, mas mensurável e ocorre de forma objetiva. Para investigar, Thurner e sua equipe examinaram se as redes sociais haviam mudado, especificamente, se as amizades íntimas haviam mudado. "Durante décadas, estudos sociológicos mostraram que as pessoas mantinham uma média de dois amigos íntimos, pessoas que poderiam influenciar suas opiniões sobre questões importantes", explica Thurner.

Também nesse caso, os pesquisadores detectaram uma mudança surpreendente: "Por volta de 2008, houve um aumento acentuado de uma média de dois amigos íntimos para quatro ou cinco", acrescenta Jan Korbel, cientista do CSH. Usando um modelo baseado em dados reais, os pesquisadores descobriram que esse poderia ser o caso: "Quando a densidade da rede aumenta com mais conexões, a polarização dentro do coletivo inevitavelmente aumenta drasticamente", diz Markus Hofer, do CSH.

"Essa descoberta nos impressionou enormemente porque poderia fornecer uma explicação fundamental para a forma peculiar de polarização que observamos simultaneamente em muitas partes do mundo, uma forma que, sem dúvida, ameaça a democracia", continua Thurner. "Quando as pessoas estão mais conectadas umas às outras, elas se deparam com opiniões diferentes com mais frequência. Isso inevitavelmente leva a mais conflitos e, portanto, a uma maior polarização social", acrescenta Korbel.

A polarização sempre existiu, mas o que está acontecendo agora transcende em muito os padrões históricos. A maior conectividade levou à formação de menos grupos, porém mais unidos, com pontos de vista muito diferentes, entre os quais há pouca troca. "Há poucas pontes entre essas 'bolhas' e, quando elas existem, geralmente são negativas ou até mesmo hostis", diz Korbel. "Isso é chamado de fragmentação e representa um novo fenômeno social", acrescenta Thurner.

Para o estudo, os pesquisadores analisaram dados abrangentes de pesquisas existentes sobre polarização e redes sociais. Para medir a polarização política, eles usaram mais de 27.000 pesquisas do Pew Research Center, que registra regularmente as atitudes políticas dos americanos, explica Hofer. A principal vantagem desses dados é que as perguntas permaneceram praticamente inalteradas ao longo do tempo, permitindo comparações confiáveis de longo prazo.

Os pesquisadores descobriram que as atitudes políticas se tornaram significativamente mais unilaterais entre 1999 e 2017. Por exemplo, apenas 14% dos entrevistados expressaram consistentemente opiniões liberais em 1999, mas, em 2017, esse número subiu para 31%. Por outro lado, apenas 6% dos entrevistados tinham opiniões conservadoras de forma consistente em 1999, em comparação com 16% em 2017. Cada vez mais pessoas estão claramente se alinhando a um campo político, em vez de manter uma mistura de opiniões liberais e conservadoras, diz Hofer.

Para analisar as redes de amizade, os pesquisadores combinaram 30 pesquisas diferentes com um total de mais de 57.000 participantes da Europa e dos Estados Unidos, incluindo a Pesquisa Social Geral (EUA) e a Pesquisa Social Europeia. "Apesar das pequenas diferenças entre as pesquisas individuais, os dados mostram consistentemente que o número médio de amizades íntimas aumentou de 2,2 em 2000 para 4,1 em 2024", acrescenta Hofer.

"A contribuição decisiva desse estudo é que ele reconciliou os dois fenômenos usando um modelo social matemático", explica Thurner. "Isso nos permitiu mostrar que o aumento da conectividade deve levar a uma polarização repentina quando uma densidade crítica de conectividade é ultrapassada, exatamente como uma transição de fase na física, como a conversão de água em gelo", acrescenta Hofer. "Fascinantemente, essas transições de fase também existem nas sociedades. A localização exata desses limiares críticos ainda precisa ser esclarecida. De acordo com nossos resultados, no caso de relacionamentos íntimos, é entre três e quatro pessoas", dizem os pesquisadores.

O aumento acentuado tanto da polarização quanto do número de amigos íntimos ocorreu entre 2008 e 2010, exatamente quando as plataformas de redes sociais e os smartphones se difundiram. Essa mudança tecnológica pode ter transformado radicalmente a maneira como as pessoas se conectam, promovendo indiretamente a polarização.

"A democracia depende da participação de todos os setores da sociedade na tomada de decisões, o que exige que todos possam se comunicar uns com os outros. Mas quando os grupos não podem mais se comunicar entre si, esse processo democrático desmorona", enfatiza Stefan Thurner.

A tolerância desempenha um papel fundamental. "Se eu tenho dois amigos, faço o possível para mantê-los; sou muito tolerante com eles. Mas se tenho cinco e as coisas se complicam com um deles, é mais fácil acabar com essa amizade porque ainda tenho 'suplentes'. Não preciso mais ser tão tolerante", explica Thurner.

Como resultado, uma base social para a tolerância desaparece, um desenvolvimento que pode contribuir para a erosão de longo prazo das estruturas democráticas. Para evitar que as sociedades se tornem cada vez mais fragmentadas, Thurner enfatiza a importância de aprender desde cedo a interagir com opiniões diferentes e a cultivar ativamente a tolerância.

Esta notícia foi traduzida por um tradutor automático

Contador

Contenido patrocinado