MADRID, 14 abr. (EUROPA PRESS) -
Um grupo de cientistas, liderado pela Universidade do Algarve e pela Universidade de Viena, conseguiu esclarecer o mistério de como nossos ancestrais faziam fogo na Idade do Gelo.
A análise de três lareiras em um sítio pré-histórico na Ucrânia mostra que as pessoas da última Idade do Gelo construíram diferentes tipos de lareiras e usaram principalmente madeira, mas possivelmente também ossos e gordura, para alimentar suas fogueiras, evidência de pirotecnia sofisticada. As descobertas foram publicadas na revista Geoarchaeology.
A pesquisa arqueológica mostra que o Homo sapiens na Europa durante o Paleolítico Superior, entre 45.000 e 10.000 anos atrás, usava o fogo de várias maneiras. "O fogo não servia apenas para aquecer; também era essencial para cozinhar, fazer ferramentas e reuniões sociais", disse Philip R. Nigst, um dos principais autores e arqueólogo da Universidade de Viena, em um comunicado.
Sempre se supôs que o fogo era essencial para a sobrevivência dos caçadores-coletores na Europa da Idade do Gelo. Entretanto, surpreendentemente, existem poucas evidências bem preservadas do uso do fogo no período mais frio da Idade do Gelo, entre 26.500 e 19.000 anos atrás, na Europa.
"Sabemos que o fogo era muito difundido antes e depois desse período, mas há poucas evidências do auge da Idade do Gelo", diz William Murphree, principal autor do estudo e geoarqueólogo da Universidade do Algarve.
O presente estudo é ainda mais relevante porque os cientistas descobriram e analisaram três lareiras em um sítio pré-histórico na Ucrânia. Isso foi possível graças a uma série de técnicas geoarqueológicas inovadoras. Por meio de análises microstratigráficas, micromorfológicas e colorimétricas, a equipe identificou três lareiras simples e planas feitas de lenha.
TEMPERATURAS DE MAIS DE 600 GRAUS
Uma descoberta interessante foi que esses fogos atingiram temperaturas superiores a 600 °C, demonstrando um sofisticado domínio da pirotecnia, mesmo em condições ambientais extremas.
A análise também mostra que os seres humanos usavam a madeira como combustível principal durante o auge da Idade do Gelo, e as análises de carvão vegetal indicam madeira de abeto. Entretanto, outros combustíveis, como osso ou gordura, poderiam ter sido usados.
"Alguns dos ossos de animais encontrados no local foram queimados em um incêndio a uma temperatura de mais de 650 graus Celsius. Atualmente, estamos investigando se eles foram usados como combustível ou simplesmente queimados acidentalmente", explica Marjolein D. Bosch, uma das autoras e zooarqueóloga da Universidade de Viena, da Academia Austríaca de Ciências e do Museu de História Natural de Viena.
CONTROLE DE FOGO
Todas as três lareiras são abertas e planas. No entanto, os novos resultados sugerem que o uso do fogo era sofisticado, pois é provável que as lareiras tenham sido construídas e usadas de forma diferente em estações diferentes. Uma das três lareiras é maior e mais espessa, sugerindo que temperaturas mais altas eram alcançadas nesse local.
"As pessoas tinham perfeito controle sobre o fogo e sabiam como usá-lo de diferentes maneiras, dependendo de sua finalidade. Mas nossos resultados também mostram que esses caçadores-coletores usavam o mesmo local em diferentes épocas do ano durante suas migrações anuais", explica Nigst.
Apesar dessas novas descobertas, o pequeno número de chaminés do Último Máximo Glacial continua sendo um mistério. "A maior parte das evidências foi destruída pelo congelamento e descongelamento alternados do solo, típicos das eras glaciais?", pergunta Murphree.
"Ou as pessoas não encontraram combustível suficiente durante o Último Máximo Glacial - elas não usavam fogo, recorriam a outras soluções tecnológicas", acrescenta Nigst.
Esta notícia foi traduzida por um tradutor automático