MADRID 3 mar. (EUROPA PRESS) -
Dois enigmáticos objetos interestelares gelados descobertos com o telescópio ALMA apresentam propriedades únicas que não podem ser explicadas pelas características de nenhum objeto associado conhecido em sua classe e podem, portanto, representar uma nova classe de corpos celestes.
Acredita-se que as moléculas orgânicas que servem como blocos de construção da vida se formem no espaço, mas seus locais exatos de formação e mecanismos de entrega aos planetas continuam sendo um grande mistério na astronomia e na ciência planetária. Um dos principais elementos para solucionar esse mistério é a presença de gelo em ambientes interestelares. Nas regiões frias, densas e protegidas da galáxia, os átomos e as moléculas aderem às superfícies de partículas sólidas de tamanho submicrônico (poeira), levando à formação de gelos interestelares. Esse processo é semelhante à forma como a neve se forma nas nuvens da Terra.
Astrônomos da Universidade de Niigata e da Universidade de Tóquio (Japão) fizeram observações de gás molecular de dois objetos interestelares enigmáticos usando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) no Chile.
Esses objetos foram descobertos anteriormente pelo satélite infravermelho japonês AKARI em 2021 e são conhecidos por serem ricos em gelos interestelares contendo água e moléculas orgânicas, embora suas propriedades ainda não estejam claras. Normalmente, os gelos interestelares são detectados em regiões densas de nuvens formadoras de estrelas, mas esses dois objetos não pertencem a nenhuma região formadora de estrelas conhecida.
A equipe de pesquisa usou o telescópio ALMA para observá-los em um comprimento de onda de aproximadamente 0,9 mm. Embora as observações em infravermelho sejam eficazes para estudar materiais sólidos, as observações em rádio são mais úteis para analisar o movimento e a composição dos gases associados. Se esses dois objetos interestelares estivessem formando estrelas, a alta resolução espacial e a sensibilidade do ALMA detectariam várias emissões moleculares. Além disso, se uma nuvem molecular não detectada anteriormente estivesse presente na direção desses objetos, ela apareceria como emissões de gás espacialmente estendidas em monóxido de carbono.
Entretanto, as observações revelaram algo diferente de qualquer uma dessas expectativas. Nas posições dos dois objetos gelados, foram detectadas apenas linhas de emissão molecular de monóxido de carbono e monóxido de silício, que exibiram uma distribuição muito compacta de menos de um segundo de arco. Usando os dados do ALMA, a equipe analisou a distância, o movimento, o tamanho e a composição química do gás molecular associado a esses objetos.
Por exemplo, com base na análise de suas velocidades de linha de visão, sugeriu-se que os dois objetos estão localizados a aproximadamente 30.000 a 40.000 anos-luz de distância da Terra. Além disso, a diferença significativa em suas velocidades indica que esses objetos são cinemáticamente independentes e estão localizados a distâncias diferentes, apesar de estarem separados por apenas cerca de 3 arcminutos na esfera celeste e exibirem cores, brilho e características de gelo interestelar semelhantes.
Os objetos interestelares gelados geralmente são incorporados em grandes quantidades de poeira, o que os faz brilhar intensamente nos comprimentos de onda do infravermelho distante ao submilimétrico. Entretanto, as observações do ALMA nesse estudo não detectaram radiação submilimétrica dos dois objetos gelados, revelando uma distribuição de energia incomum que não corresponde às características dos objetos gelados interestelares conhecidos anteriormente.
Além disso, as observações do ALMA revelaram que a proporção de monóxido de silício para monóxido de carbono nos dois objetos é significativamente maior do que a observada normalmente em nuvens moleculares normais. Essa abundância de monóxido de silício é normalmente encontrada apenas em regiões onde a poeira interestelar está sendo destruída por intensas ondas de choque, sugerindo que os dois objetos estão associados a uma fonte de energia que está perturbando fortemente o gás.
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As propriedades exclusivas dos misteriosos objetos gelados revelados pelo ALMA não podem ser explicadas pelas características de nenhum objeto conhecido associado a gelos interestelares, como estrelas recém-formadas, estrelas jovens com discos protoplanetários, estrelas evoluídas exibindo intensa perda de massa ou estrelas brilhantes localizadas atrás de nuvens moleculares densas.
"Elas podem representar uma nova classe de objetos interestelares que proporcionam um ambiente favorável à formação de gelos e moléculas orgânicas", diz Takashi Shimonishi, astrônomo da Universidade de Niigata, no Japão, e principal autor do artigo. "Futuras observações de alta resolução do gás associado usando o telescópio ALMA, juntamente com estudos mais detalhados de gelos e poeira com o Telescópio Espacial James Webb, lançariam luz sobre a natureza desses misteriosos objetos gelados", espera Takashi Shimonishi.
As descobertas foram publicadas no The Astrophysical Journal.
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