MADRID, 1 jul. (EUROPA PRESS) -
Os primeiros humanos modernos da caverna de Blombos, na África do Sul, demonstraram habilidades técnicas avançadas antes do que se estimava, usando ocre para fazer ferramentas na Idade Média da Pedra, há 90.000 anos.
"Agora sabemos que o ocre era uma ferramenta multifuncional que desempenhava um papel essencial na vida cotidiana dos primeiros humanos modernos. Acredito que essa descoberta pode mudar nossa perspectiva sobre o ocre e o passado, e aprofundar nossa compreensão do comportamento humano primitivo", diz Elizabeth Velliky, autora da nova pesquisa sobre o assunto.
Velliky fez a descoberta enquanto trabalhava no laboratório SapienCE na Cidade do Cabo, junto com seus colegas Francesco d'Errico, Karen van Niekerk e Christopher Henshilwood.
Velliky estava examinando artefatos de escavações anteriores quando notou um pedaço de ocre que se destacava dos demais.
O formato exclusivo da peça e seus padrões de desgaste, ou marcas deixadas pelo uso humano, indicavam que a peça de ocre havia sido usada para mais do que apenas a fabricação de pigmento em pó.
O estudo da equipe, agora publicado na Science Advances, examina sete peças de ocre descobertas nos sedimentos da caverna de Blombos, que datam de aproximadamente 90.000 a 70.000 anos atrás.
A análise dos experimentos e a replicação do desgaste de uso confirmam que os retocadores de ocre eram fundamentais para o processo de escultura. Isso marca a primeira evidência direta do uso do ocre como ferramenta para retoques líticos durante a Idade Média, representando um avanço significativo em nossa compreensão da tecnologia e do comportamento humanos primitivos.
"Agora sabemos que esses pedaços de ocre não foram simplesmente coletados e usados, mas foram cuidadosamente modificados para atender a uma finalidade tecnológica específica", diz Velliky.
Sua morfologia e padrões de desgaste correspondem aos produzidos por percussão direta e descamação por pressão, uma técnica trabalhosa que exige controle motor fino e conhecimento especializado. Essa técnica foi fundamental para a extração delicada de pequenas lascas de ferramentas de pedra, provavelmente usadas na produção das icônicas pontas de Still Bay: ferramentas bifaciais conhecidas por sua forma simétrica e métodos avançados de descamação, consideradas entre os artefatos líticos (de pedra) mais sofisticados da Idade Média da Pedra na África.
ARTEFATOS PESSOAIS
O grau de padronização e intencionalidade em seu entalhe indica que não se tratava de ferramentas casuais, mas de objetos pessoais, possivelmente ferramentas preciosas pertencentes a habilidosos cortadores de sílex.
"A sofisticação desses lascadores de pressão implica que eles eram propriedade pessoal de ferramenteiros experientes", diz d'Errico. "É possível que eles funcionassem não apenas como ferramentas práticas, mas também como indicadores de identidade e proeza técnica.
A descoberta ressalta a complexidade dos comportamentos tecnológicos dessas pessoas na caverna de Blombos e desafia as interpretações tradicionais do ocre como um material usado principalmente para fins simbólicos. O estudo destaca o papel integral do ocre nos sistemas tecnológicos das primeiras comunidades humanas modernas e sua possível contribuição para o surgimento da identidade pessoal ou de grupo.
"Agora temos evidências de que o ocre não era apenas um meio de expressão simbólica, mas também um material fundamental na produção de ferramentas especializadas, refletindo um nível de sofisticação tecnológica anteriormente associado a períodos muito posteriores", diz Henshilwood, arqueólogo e diretor da SapienCE.
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