MADRID 2 jul. (EUROPA PRESS) -
Disseminadores, jornalistas e comunicadores científicos afirmaram nesta quarta-feira que as redes sociais e a Inteligência Artificial atuam como uma "rodovia" para acelerar a disseminação da desinformação, tanto no campo da saúde quanto em outras categorias, que se tornou um "novo poder" e uma nova normalidade.
"A disseminação da desinformação sempre existiu. O que acontece é que agora temos rodovias que permitem a disseminação em alta velocidade dessa desinformação", disse o jornalista e especialista em desinformação Marc Amorós durante uma conferência organizada pela Pfizer sobre a relação entre esse fenômeno e o setor de ciência e saúde.
Vale ressaltar que 20% da população espanhola reconheceu ter recebido informações falsas sobre ciência e saúde, principalmente por meio de redes sociais, de acordo com um estudo da Fundação Espanhola de Ciência e Tecnologia (FECYT).
"Estamos vivendo em uma era de ouro da desinformação, onde o conteúdo manipulado prioriza o impacto emocional e impede a construção do consenso necessário para enfrentar os grandes desafios globais", enfatizou.
Ele continuou listando uma série de manchetes falsas, como "Tumores cancerosos são sacos de ovos cheios de parasitas que podem ser curados com ivermectina", "Repolho reduz a mortalidade por câncer de mama" ou "Colocar ozônio no ânus ou na vagina cura câncer, AIDS e Alzheimer", entre outras que se tornaram virais nas redes sociais.
Tudo isso não tem tanto o objetivo de fazer com que as pessoas acreditem em suas "mentiras", mas que "deixem de acreditar" na verdade, algo que os propagadores da desinformação já estão conseguindo, pois apenas 31% dos espanhóis confiam nas informações da mídia, de acordo com um estudo da Ipsos.
"As notícias falsas não são uma coincidência, não são algo que acontece por acaso ou coincidência. Elas não são piadas, nem anedotas sem importância. As notícias falsas têm uma intenção, servem a um propósito, em suma, são uma indústria", acrescentou Amorós.
DESINFORMAÇÃO AO LONGO DA HISTÓRIA
Por sua vez, o divulgador e apresentador do programa 'El punto sobre la Historia', David Botello, concordou que a desinformação "não nasceu" nas redes sociais, nem na mídia on-line, nem com a imprensa, mas que a história da manipulação sempre existiu, um fenômeno do qual "a ciência não ficou isenta".
Por isso, ele explicou como a desinformação e a manipulação do público existiram ao longo da história, dando como exemplos Ramsés II e a falsificação de sua vitória na Batalha de Qadesh (1274 a.C.), a propaganda a favor do rei Fernando VII durante a Guerra da Independência Espanhola, os primeiros movimentos antivacina que surgiram quando Louis Pasteur os inventou, as caricaturas de Charles Darwin por sua teoria da evolução ou a máquina de propaganda nazista liderada por Joseph Goebbels.
"A manipulação da história tem sido uma ferramenta fundamental do poder para influenciar a sociedade, e entender essa história nos ajuda a enfrentar os desafios atuais da desinformação com mais perspectiva", disse ele durante seu discurso.
A diretora de comunicações da Pfizer Espanha, Maite Hernández, enfatizou que a ciência deve ser "acessível, compreensível e baseada" em dados e fatos comprovados, e disse que a desinformação é uma "ameaça" tanto para a saúde pública quanto para o progresso científico.
ATAQUES CONTRA DIVULGADORES NAS REDES SOCIAIS
A tentativa de se posicionar contra essas correntes pode levar a dificuldades em sua transmissão, e até 51% dos divulgadores científicos espanhóis sofreram ataques nas redes sociais enquanto realizavam seu trabalho, o que levou 16% deles a abandonar temporária ou permanentemente esse tipo de atividade.
Para lidar com a crescente desinformação, Laura Chaparro, jornalista especializada em informações científicas e editora-chefe do Science Media Center Spain (SMC) da FECYT, destacou o trabalho do centro como uma "ponte essencial" entre a comunidade científica e a mídia, pois facilita o acesso a fontes especializadas, organiza briefings e desenvolve recursos para jornalistas e o público, melhorando assim a "conversa pública" sobre ciência e saúde.
Entre os principais desafios identificados está o aumento da confiança do público nas fontes de informação e nas instituições públicas, o que está relacionado a uma menor crença em afirmações falsas e a uma menor disposição de compartilhar essa desinformação, de acordo com um estudo publicado na revista "Nature".
"Essas descobertas mostram que a luta contra a desinformação deve ir além da simples negação ou prevenção, e também se concentrar no fortalecimento da confiança institucional como uma estratégia fundamental", disse ele.
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