A pesquisa abre as portas para o desenvolvimento de terapias para bloquear a migração celular quando ela é prejudicial
MADRID, 12 dez. (EUROPA PRESS) -
Uma equipe do Centro Nacional de Biotecnologia (CNB) do Conselho Nacional de Pesquisa da Espanha (CSIC) identificou o papel fundamental do colesterol na capacidade das células imunológicas de migrar para áreas de infecção, inflamação ou tecido danificado.
Os resultados, publicados na revista "Cell Communication and Signaling", mostram que a redução controlada do colesterol na membrana das células imunológicas altera a funcionalidade dos receptores que elas usam para se orientar e migrar para o local onde desempenham sua função.
Essa descoberta abre a porta para o desenvolvimento de terapias para bloquear a migração celular quando ela é prejudicial, como ocorre em processos inflamatórios crônicos, metástase ou doenças autoimunes.
Na presença de um processo inflamatório, as células afetadas liberam quimiocinas, proteínas que agem como sinais de diferentes tipos de danos e atraem as células do sistema imunológico para realizar sua função protetora. Esses sinais são reconhecidos por receptores específicos nas membranas dos leucócitos e causam a migração gradiente das células.
O estudo mostra que uma redução moderada do colesterol, obtida por meio do tratamento com a enzima colesterol oxidase, altera a fluidez da membrana celular, afetando a organização e a dinâmica de um desses receptores, o CXCR4, que foi o foco deste estudo, na membrana e, consequentemente, a capacidade dos linfócitos T de migrar pelo gradiente em direção aos tecidos danificados.
Os resultados podem ter um impacto importante em doenças autoimunes, como esclerose múltipla ou artrite, em que o objetivo é evitar que as células imunológicas invadam o sistema nervoso ou as articulações, bem como em processos de metástase de tumores, em que a redução da migração celular ajudaria a evitar a disseminação do câncer.
Além disso, o estudo sugere que a modificação da composição lipídica da membrana de forma controlada pode se tornar uma estratégia para regular a função não apenas dos receptores de quimiocina, mas também de outros receptores envolvidos na ativação de respostas celulares.
"A mesma célula, com os mesmos níveis de receptores, pode se comportar de forma completamente diferente se o colesterol em sua membrana for alterado, algo que acontece em diferentes patologias. Esse é, na verdade, um mecanismo que aumenta a plasticidade das células e sua diversidade funcional", diz Mario Mellado, pesquisador do CSIC no Centro Nacional de Biotecnologia (CNB-CSIC) e diretor do estudo.
"O controle do movimento celular é fundamental, não apenas para a defesa contra infecções, mas também para evitar processos patológicos. Em doenças autoimunes, impedir que as células imunológicas se movimentem pode impedir danos ao próprio corpo. E no câncer, o bloqueio da migração celular pode reduzir a metástase. De fato, alguns tratamentos atuais, como os anticorpos anti-integrina, já se baseiam nessa ideia para impedir que as células atravessem barreiras e atinjam órgãos sensíveis", explica Mellado.
MOVIMENTO CELULAR, UM MECANISMO MULTITAREFA
O movimento celular é essencial para a formação de órgãos, organização de tecidos, fechamento de feridas e até mesmo metástase de tumores. No sistema imunológico, ele é decisivo, pois dele dependem funções essenciais, como patrulhar o corpo, localizar patógenos, desenvolver uma resposta eficaz e chegar ao local onde suas células precisam agir.
Além disso, o movimento das células do sistema imunológico está envolvido na infiltração de tecidos e no acúmulo anormal de células imunológicas em um tecido, bem como no dano tecidual, que ocorre quando desenvolvemos doenças autoimunes ou inflamação crônica.
O movimento das células do sistema imunológico não é aleatório, nem a distribuição dos receptores na membrana celular. Os gradientes quimioatraentes fazem com que os receptores se agrupem em uma área específica da membrana, chamada de frente de avanço, o que permite que os gradientes sejam detectados e direcionem o movimento das células na direção certa.
Eles são como o GPS molecular que direciona as células para os locais onde elas precisam desempenhar suas funções. Se esse sistema se desorganiza, "a célula perde a capacidade de se orientar e se move sem nenhuma direção, literalmente perde a trilha que deveria levá-la ao local onde pode ser útil", diz Mellado.
O PAPEL DO COLESTEROL NA MEMBRANA CELULAR
O colesterol é um componente essencial das membranas celulares, pois ajuda a manter sua estrutura e flexibilidade e contribui para a organização espacial dos receptores nelas inseridos. Nesse estudo, os pesquisadores reduziram os níveis de colesterol de forma controlada, sem afetar a viabilidade celular.
Eles descobriram que, embora o receptor CXCR4 ainda reconhecesse o sinal de ativação (a quimiocina CXCL12), ele não conseguia formar os grupos necessários para detectar os gradientes quimioatraentes e, portanto, impedia que as células T se movessem na direção certa e gerassem uma resposta celular eficiente.
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