MADRID 9 maio (EUROPA PRESS) -
Apenas 30 espécies de árvores no Cerrado (Brasil) - a maior e mais floristicamente diversa savana do mundo - são responsáveis por quase metade de todas as suas árvores.
Esse fenômeno de hiperdominância de poucas espécies tem implicações importantes para a compreensão e a conservação desse importante ecossistema, de acordo com os autores.
O estudo, conduzido por cientistas do Brasil, do Reino Unido e da Holanda, e publicado na Communications Biology, baseia-se em dados de mais de 200 parcelas de um hectare, combinados com imagens de satélite e modelagem espacial.
As descobertas mostram que 30 espécies (menos de 2%) das 1605 espécies de árvores do Cerrado são responsáveis por quase metade de todas as árvores.
Entre esse grupo distinto de árvores hiperdominantes, descobriu-se que uma espécie, a Qualea parviflora, é responsável por uma em cada 14 árvores.
"Ficamos surpresos com esse nível de hiperdominância em um ecossistema tão diverso", disse o autor principal, Dr. Facundo Álvarez, da Universidade Estadual de Mato Grosso (UNEMAT), em um comunicado.
"Esse padrão é semelhante ao observado na floresta amazônica, embora o Cerrado seja uma savana. Nossa pesquisa também determinou que o Cerrado perdeu aproximadamente 24 bilhões de árvores desde 1985, um número impressionante equivalente a três vezes a atual população humana na Terra. Compreender a dominância dessas poucas espécies é essencial diante de tais perdas.
MAIS DE DOIS MILHÕES DE KM2
Cobrindo 2 milhões de km2 - uma área equivalente à Inglaterra, França, Alemanha, Itália e Espanha juntas - o Cerrado é a maior savana do mundo e a savana arbórea com maior diversidade florística, além de ser uma porta de entrada para a Amazônia e desempenhar um papel vital no fornecimento de água doce e no sequestro de carbono.
Essa hiperdominância de poucas espécies, atualmente presente tanto nas florestas amazônicas quanto no Cerrado, destaca os riscos que ambos os biomas enfrentam de perda de espécies devido à fragmentação, ao desmatamento e à mudança no uso da terra.
"Quando tantos processos ecossistêmicos estão concentrados em cerca de 30 espécies individuais, isso significa que, se esse sistema for alterado, por exemplo, por meio de mudanças climáticas, dependendo de como essas espécies respondem a essa alteração, há um risco de perda de espécies-chave para manter a funcionalidade essencial da savana como tal", disse o coautor, o professor Ted Feldpausch, da Universidade de Exeter.
Como apenas 30 espécies dominam o Cerrado, sua estabilidade e funcionamento são muito limitados. No entanto, o professor Feldpausch explica que o foco nessas espécies poderia ajudar os pesquisadores a entender como esse vasto ecossistema funciona.
"Isso pode nos ajudar a prever como o sistema como um todo funcionará e, possivelmente, como ele responderá a distúrbios, sejam eles causados por mudanças nos regimes de incêndio ou mudanças climáticas", conclui.
O bioma do Cerrado, criticamente ameaçado de extinção, desempenha um papel crucial como porta de entrada para a Amazônia e outros biomas, mas está apenas 8% protegido e mais da metade está desmatada. Até o momento, ele tem atuado como uma barreira, separando a Amazônia da região sudeste do Brasil, densamente povoada e urbanizada.
Os pesquisadores alertaram que até 800 espécies de árvores poderiam permanecer sem serem detectadas e se tornarem extintas em poucas décadas devido ao desmatamento.
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