Publicado 26/11/2025 04:58

Mulheres ativistas e jornalistas em Cuba, que enfrentam a repressão e a violência institucional baseada no gênero

A Anistia Internacional denuncia "práticas autoritárias" e "instrumentalização da maternidade".

A jornalista Luz Escobar lamenta a falta de "ação política" e a "cumplicidade" da Espanha.

Archivo - Arquivo - Uma pessoa com o rosto pintado em uma manifestação de apoio às marchas realizadas em Cuba contra as políticas do governo de Miguel Díaz-Canel.
Alejandro Martínez Vélez - Europa Press - Arquivo

MADRID, 26 nov. (EUROPA PRESS) -

As mulheres ativistas e jornalistas cubanas, que exigem um país mais livre e justo, enfrentam um muro de "repressão, violência estatal e práticas autoritárias" que, de acordo com organizações de direitos humanos, colocam em risco suas vidas e procuram silenciar suas vozes.

A pesquisadora regional da Anistia Internacional para o Caribe, Johanna Cilano, indicou que há indícios de que essa "violência estatal de gênero" à qual as mulheres estão sujeitas é "sistemática", com o objetivo de "silenciar toda dissidência".

"O Estado cubano faz uso de prisões arbitrárias, violência e criminalização de protestos contra todos aqueles que levantam suas vozes, mas também há violência estatal baseada em gênero, uma violência diferenciada com um padrão específico", explicou Cilano em entrevista à Europa Press.

A violência específica contra as mulheres inclui a "instrumentalização da maternidade", a "sexualização de seus corpos", a "vigilância de seus filhos" e a "nudez forçada", disse ela, mas também "todos os tipos de insultos e humilhações" durante os interrogatórios.

"Essa violência institucional contra mulheres ativistas, jornalistas e professoras", continuou ela, "é usada como mecanismo de pressão para impedi-las de defender os direitos humanos" em um país onde o governo, sujeito a sanções internacionais, "continua a violar os direitos humanos e as normas internacionais dentro de suas próprias fronteiras".

Sobre as pressões específicas exercidas sobre as crianças, Cilano destaca as ameaças relacionadas à segurança física de seus pais, bem como "comentários misóginos e degradantes durante os interrogatórios". "Elas são sexualizadas e há nudez forçada; buscas desnecessariamente invasivas durante prisões por participação em protestos", lamentou.

"Há dados que mostram padrões muito claros e distintos no uso dessa violência e dos laços familiares para tentar isolá-las e forçá-las a ceder. Eles tentam fazer com que elas se sintam vulneráveis, dizem que estão sozinhas e até ameaçam suas mães", disse ela.

É por isso que algumas pessoas "são forçadas ao exílio", justamente como resultado da "pressão direta ligada à segurança de seus filhos". "Há outros casos em que as pessoas continuam com seu trabalho e assumem que somente denunciando o que estão sofrendo estão defendendo o futuro de seus filhos", argumentou, ao mesmo tempo em que advertiu que, no entanto, muitos outros decidem parar de protestar por medo.

"Elas entendem que, se cederem, seus filhos serão violados em algum momento, que serão afetados por essa violência em algum momento no futuro", acrescentou.

Nesse sentido, a jornalista Luz Escobar, que vive no exílio depois de sofrer "anos de repressão e assédio", denunciou que a segurança do Estado começou a incluir suas filhas nas ameaças contra ela. "Eles me disseram que eu estava colocando-as em perigo com minhas ações. Começaram a me convocar para falar sobre elas e me disseram que, quando atingissem a maioridade, pagariam o preço por minhas ações", disse.

"Durante todos os anos em que fiz jornalismo em Cuba, eu estava pronto para ir para a cadeia, mas depois fiquei apavorado porque elas são minhas filhas. Foi quando decidi deixar o país, para protegê-las e para minha saúde mental", explicou.

CUMPLICIDADE DA ESPANHA

Escobar criticou a Espanha por sua falta de vontade política quando se trata de lidar com a situação em Cuba e garantiu que há uma "cumplicidade" velada baseada em "interesses políticos e econômicos". "Temos visto isso há anos, independentemente de quem esteja no governo. O que vemos é cumplicidade, o presidente de Cuba é sempre reconhecido e sempre há fotos", advertiu.

"Acho que isso tem a ver com interesses, mas temos de continuar pressionando nessa direção", disse ele, antes de enfatizar a importância de a população civil cubana contar com o apoio da Espanha, que é "como a porta para a Europa".

"Se a Espanha não reconhecer essas denúncias do que está acontecendo em Cuba, não poderemos avançar. Por parte dos jornalistas, é importante contar o que está acontecendo, narrar essa realidade que muitos negam, mas que estamos vivendo", afirmou em declarações à Europa Press.

Ele criticou aqueles que "usam o embargo dos EUA como desculpa". "O Estado é responsável pelas violações dos direitos humanos, basta olhar um pouco mais de perto a realidade cubana para ver isso, mas nossa posição é que nenhuma medida externa justifica a violação dos direitos humanos dentro do país e o não cumprimento das normas básicas do direito internacional", enfatizou.

LEI CONTRA A VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Cilano, que lamentou que o governo cubano "não priorize setores como saúde e alimentação" e que tenha relegado a sociedade civil a ter que lidar com uma atmosfera de "repressão generalizada" após décadas de bloqueio e isolamento, ressaltou a importância de se ter uma lei contra a violência de gênero que evite essas práticas violentas específicas contra as mulheres e que reconheça o feminicídio como um "crime autônomo".

"Pedimos uma legislação abrangente que obrigue o cumprimento das normas internacionais e garanta uma vida livre de violência para as mulheres, que também inclua uma seção específica reconhecendo o trabalho das mulheres defensoras dos direitos humanos e garantias de reparação e acesso a mecanismos de denúncia que evitem a impunidade", disse ela.

Além disso, ressaltou a importância de "insistir nesse chamado específico para que o Estado legisle, já que "nada, nenhuma sanção ou medida externa, justifica que essas pessoas, essas mulheres, sofram violência de Estado com base em seu gênero e sejam submetidas a práticas autoritárias e sistemáticas". "A ideia de que Cuba representa a luta contra todo o imperialismo continua permeando, e temos que falar sobre isso", acrescentou.

Por isso, destacou, é necessário que os governos "utilizem mecanismos que garantam a defesa dos direitos humanos e evitem que essa atividade seja punida e criminalizada". "Queremos mecanismos que nos permitam pressionar o governo", acrescentou.

Ele também enfatizou a importância de demonstrar "solidariedade" com aqueles que têm de enfrentar esses atos de violência e repressão, uma solidariedade que deve "se traduzir em declarações e acompanhamento".

Escobar, por sua vez, lembrou que a sociedade cubana é uma "sociedade machista" na qual as mulheres vivem em um "esquema repressivo por parte de um Estado que busca silenciá-las".

"O que está acontecendo não é parte de uma violência aleatória devido a um problema de território, água ou raça, mas de um Estado que quer silenciar a dissidência, a voz ou os critérios de uma mulher. E o que essa pessoa está pedindo é respeito por um direito que não está sendo respeitado; é simples assim, não sei como isso pode ser justificado", concluiu.

Esta notícia foi traduzida por um tradutor automático

Contador

Contenido patrocinado