MADRID, 19 nov. (EUROPA PRESS) -
A ministra das Relações Exteriores da Colômbia, Rosa Yolanda Villavicencio, disse na quarta-feira que acredita ser possível chegar a um acordo com o Clã do Golfo antes do final do mandato do governo de Gustavo Petro, em agosto de 2026, depois de iniciar contatos com a que é a gangue criminosa mais importante do país sul-americano em setembro, com a mediação do Catar.
"É muito possível que, antes do final do governo, haja uma decisão sobre esse acordo entre o governo e eles para desativar todas as atividades ilegais e entrar em um acordo muito concreto", disse Villavicencio durante uma Tribuna EFE-Casa América em Madri, onde ele enfatizou que esse caminho "deve significar" para os membros da gangue "um retorno à vida civil" por meio de programas de reintegração para sua "inclusão na sociedade".
Ele explicou que "certamente" haverá uma segunda rodada de negociações no Catar "neste mês ou no próximo" com o objetivo de "estabelecer acordos muito concretos", antes de afirmar que "o Executivo (colombiano) definiu que não pode ter mesas indefinidas para conversar e não especificar nada". "Por isso, suspendeu as conversações com outros grupos armados", lembrou.
"Sentar-se significa que eles realmente têm vontade de negociar e chegar a acordos", ressaltou, antes de enfatizar que "o Clã do Golfo demonstrou, pelo menos até agora, uma vontade", incluindo a suspensão de suas ações em várias áreas do país, incluindo o bloqueio de Darién, na fronteira com o Panamá.
Nesse sentido, ele destacou que o grupo "tinha um controle muito forte no Darién, especialmente sobre o tráfico de pessoas, que era um negócio que poderia ser maior do que a cocaína". "No momento, há também maiores controles militares e o mesmo tratamento da migração por parte dos Estados Unidos, mas também porque eles não estão agindo", acrescentou.
"Há evidências de que eles querem (negociar) e é por isso que estão progredindo com eles", reiterou Villavicencio, que também explicou que no Clã do Golfo e em outros grupos criminosos "há bastante atomização". "Embora eles possam ter um acrônimo, o poder é mais territorial do que uma unidade de comando em torno daqueles que são considerados os líderes", ressaltou.
O governo de Petro retomou as negociações com o Exército de Libertação Nacional (ELN) em novembro de 2022, um processo que foi suspenso este ano devido às diferenças existentes e às ações e ataques dos guerrilheiros, enquanto somente em setembro iniciou esses esforços com o Clã do Golfo, também conhecido como Autodefesas Gaitanistas da Colômbia (AGC).
A esse respeito, Villavicencio lembrou a crise de Catatumbo, que levou o governo a suspender os contatos com o ELN. "O que aconteceu em Catatumbo deixa muito claro que não havia intenção de negociar (por parte do ELN) e foi suspenso ali", disse ele, antes de enfatizar que, a partir daquele momento, "eles optaram por conversar com grupos que realmente não têm uma avaliação diferente do tempo, no sentido de que os acordos podem ser alcançados em um período de tempo mais curto", em referência ao Clã do Golfo.
POLÊMICA SOBRE A MORTE DE MENORES EM OPERAÇÕES
Villavicencio também falou sobre a polêmica decorrente da morte de vários menores de idade em operações militares contra grupos armados, incluindo dissidentes das FARC, que são eventos "infelizes" que devem levar a "uma apuração de responsabilidades".
"Pode ter havido uma situação que não foi totalmente monitorada em termos do que deveria ser bombardeado. Terá que haver um expurgo (de responsabilidades) nesse caso", disse ele, antes de lembrar que na operação em Plateado "foi possível recuperar a aldeia e ninguém morreu". "Isso seria o ideal, mas esse caso foi muito infeliz", concluiu.
"Foi lamentável, mas também é verdade que, na luta contra os grupos ilegais e quando há essa violação dos direitos das pessoas, essas incursões, essas coerções e extorsões, todo tipo de pressão sobre a população, tirando sua liberdade, as forças de segurança agem na Colômbia", ressaltou.
Ele lembrou o deslocamento de "mais de 35.000 pessoas" em Catatumbo devido "ao cerco e às incursões do ELN". "Tivemos que apoiar o retorno dessa população", enfatizou, após o envio de "mais de 15.000 soldados" para garantir a segurança na área e permitir o retorno da população.
A controvérsia em torno da morte de mais de uma dúzia de menores recrutados por grupos paramilitares em várias operações lançadas meses atrás contra essas organizações levou um grupo de 30 parlamentares a apresentar um pedido ao Congresso colombiano na terça-feira para votar uma moção de censura contra o ministro da Defesa do país, Pedro Sánchez.
O pedido é motivado pela morte de pelo menos 15 menores em operações recentes que o exército colombiano lançou contra vários grupos armados, incluindo a dissidência das FARC liderada por "Ivan Mordisco", cujas posições em Guaviare foram bombardeadas na semana passada, causando a morte de 20 de seus combatentes, incluindo sete adolescentes.
O próprio "Ivan Mordisco" transmitiu seu "abraço de solidariedade" às famílias e amigos das "crianças e outros combatentes assassinados" por ordem de Petro. "Que esses jovens que deram suas vidas pelos milhões de colombianos que sofrem a injustiça da classe dominante neste país sejam lembrados como lutadores dignos pela libertação de nosso povo", disse ele.
Por sua vez, Sánchez disse na segunda-feira que alguns dos menores que morreram recentemente em operações do exército morreram tentando "matar" os soldados, e não sob bombardeio, ao mesmo tempo em que enfatizou que as autoridades continuarão a "empregar todas as capacidades do Estado", enquanto Petro pediu desculpas pelas mortes desses menores, mas descartou o cancelamento dessas operações.
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