O presidente critica seu colega americano por "não pensar que foi eleito para ser o xerife do mundo".
MADRID, 11 jul. (EUROPA PRESS) -
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, disse na quinta-feira que seu governo negociará as tarifas impostas pelos Estados Unidos e recorrerá à Organização Mundial do Comércio (OMC), embora tenha prometido novamente aplicar a Lei de Reciprocidade, que permite que Brasília adote as mesmas taxas caso os canais diplomáticos falhem.
Lula garantiu que "vamos tentar negociar" e ressaltou que "do ponto de vista diplomático, temos que recorrer à OMC". "Lá podemos encontrar um grupo de países tributados pelos Estados Unidos e, juntos, entrar com um recurso", explicou em uma entrevista para o canal brasileiro Récord.
"Se nada disso funcionar, vamos ter que aplicar a Lei de Reciprocidade", acrescentou, argumentando que "o comércio entre o Brasil e os Estados Unidos representa apenas 1,7% do PIB (Produto Interno Bruto)" e, portanto, minimizando a importância de uma hipotética série infinita de aumentos tarifários em que "se eles vão nos cobrar 50, nós vamos cobrar 50 deles".
De qualquer forma, o presidente responsabilizou a equipe do presidente dos EUA, Donald Trump, por um "total desconhecimento" da relação comercial entre os dois países, da qual destacou que foi o Brasil que teve um déficit de 7 bilhões de dólares (cerca de 6 bilhões de euros) em 2024 e de 410 bilhões (cerca de 351 bilhões de euros) nos últimos 15 anos. "Deve ser porque seus assessores não têm sabedoria para explicar isso", disse ele.
Nesse sentido, e em resposta à preocupação manifestada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) sobre o assunto, o presidente anunciou a criação de um comitê que incluirá empresários "para acompanhar o que acontece no dia a dia". "Não vou chamá-lo de gabinete de crise, vou chamá-lo de gabinete para repensar a política comercial brasileira com os Estados Unidos", acrescentou.
Além disso, perguntado se ele acreditava que o projeto dos BRICS de buscar uma moeda fora do dólar teria inflamado o tom do inquilino da Casa Branca, Lula argumentou que seu tom já era forte antes e explicou que "nós (os BRICS) estamos interessados em criar uma moeda para o comércio entre os outros países". Nesse sentido, ele lamentou o fato de ser "obrigado a ficar atrelado ao dólar" e ter que comprar a moeda americana para manter relações comerciais com países como Venezuela, Chile, Suécia, China e até mesmo a União Europeia.
"O BRICS é um fórum que hoje representa metade da população mundial e quase 30% do PIB mundial", ressaltou Lula, definindo o grupo como "um agrupamento de países que trabalha em favor do sul global". "Estamos cansados de ser subordinados ao Norte. Queremos ter independência em nossas políticas, queremos um comércio mais livre", garantiu.
Em outra entrevista ao Globo na quinta-feira, o líder brasileiro confirmou as conversas sobre uma moeda própria, mas também levantou a possibilidade de que "com as moedas de cada país possamos negociar sem a necessidade de usar o dólar (...) porque não temos a máquina de imprimir dólares, só os Estados Unidos têm".
TRUMP "NÃO PODE PENSAR QUE FOI ELEITO PARA SER O XERIFE DO MUNDO".
O líder brasileiro elevou o tom em vários momentos da entrevista ao canal Récord ao se referir à atitude de Donald Trump, a quem apontou que "o que ele não pode fazer é pensar que foi eleito para ser xerife do mundo". "Ele foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos. Ele pode fazer o que quiser dentro dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, quem manda somos nós, os brasileiros", disse, aludindo ao fato de que seu homólogo norte-americano baseou parcialmente as tarifas no processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
"Se o que Trump fez no Capitólio tivesse sido feito aqui, ele estaria sendo julgado como Bolsonaro e correndo o risco de ser preso, porque seria uma democracia. E eu não interfiro no judiciário, porque aqui o judiciário é autônomo, principalmente o Supremo Tribunal Federal", acrescentou, pedindo ao líder norte-americano que "respeite o Brasil (...), o sistema judiciário brasileiro".
A questão levou o presidente brasileiro a abordar inclusive sua possível candidatura para as próximas eleições presidenciais, em 2026. "Para o Trump começar um parágrafo (da carta) citando o ex-presidente da República, que cometeu um crime contra este país, que tentou dar um golpe de Estado, não tem como... não tem como, eles não vão voltar. Se for preciso ser candidato para evitar isso, eu vou ser candidato", declarou Lula.
As declarações de Lula vieram no mesmo dia em que a equipe de Bolsonaro publicou uma nota em sua conta no X sobre a carta em que Trump, por quem sente "respeito e admiração", o mencionou defendendo a imposição de tarifas. Em sua mensagem, o ex-presidente brasileiro criticou um suposto "distanciamento do Brasil de seus compromissos históricos com a liberdade, o estado de direito e os valores que sempre sustentaram nossa relação com o mundo livre" que "jamais teria acontecido" com ele no poder.
O ex-presidente diz que está sendo vítima de uma suposta "caça às bruxas" - termo usado pelo próprio presidente Trump. Bolsonaro está sendo investigado em quatro casos, um deles como líder de um complô para mantê-lo no poder após as eleições que o colocaram contra o atual presidente Lula da Silva em outubro de 2022.
Esta notícia foi traduzida por um tradutor automático