MADRID 7 maio (EUROPA PRESS) -
O Ministério das Relações Exteriores da França informou nesta quarta-feira que a justiça argelina emitiu dois mandados de prisão internacionais contra o escritor franco-argelino Kamel Daoud, em meio a tensões diplomáticas entre os dois países.
"Estamos acompanhando e continuaremos a seguir de perto a evolução desta situação", disse à imprensa o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Christophe Lemoine, acrescentando que Daoud é um "autor reconhecido e respeitado".
O primeiro mandado de prisão foi emitido pela Interpol da Argélia em março passado, enquanto o segundo foi enviado no início de maio. Ambos estariam relacionados ao seu romance 'Houris', que narra "os massacres da década negra" no país, disse sua advogada, Jacqueline Laffont, ao jornal 'Le Figaro'.
Daoud, que ganhou o prêmio da Academia Goncourt pelo romance em novembro de 2024, estaria sob mandados de prisão sob a "lei de reconciliação nacional" introduzida pelo ex-presidente Abdelaziz Bouteflika, que prevê sentenças de até cinco anos de prisão contra qualquer pessoa que "explore as feridas da tragédia nacional" para prejudicar a reputação do país.
O caso supostamente tem origem em uma queixa de uma mulher sobrevivente dos massacres da guerra civil argelina que acusou Daoud de ter usado sua história pessoal sem seu consentimento para o romance, baseando-se em confidências que ela fez a seu psiquiatra, que era a esposa do escritor.
Os mandados de prisão foram expedidos depois que um tribunal argelino condenou a cinco anos de prisão o escritor franco-argelino Boualem Sansal, que foi preso em novembro de 2024 e acusado de "atentar contra a unidade nacional" e "publicações contra a segurança e a estabilidade do país".
O agravamento das relações entre a França e a Argélia nos últimos meses foi marcado não apenas pelas prisões e repreensões cruzadas, mas também pela aproximação de Paris com Rabat e pelo reconhecimento do governo francês da soberania marroquina sobre o Saara Ocidental.
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