Publicado 16/10/2025 04:06

Felipe González admite que ainda tem dúvidas se fez a coisa certa ao não ordenar a explosão dos principais líderes do ETA

Archivo - Arquivo - Os ex-primeiros-ministros Felipe González (2i); José María Aznar (2d) e José Luis Zapatero (1d) conversam durante a cerimônia de juramento da Constituição perante as Cortes Gerais, no Congresso dos Deputados, em 31 de outubro de 2023,
Eduardo Parra - Europa Press - Archivo

Zapatero conta a noite em que o chefe do ETA, Thierry, ameaçou "transformar a Espanha no Vietnã" se ele não falasse com ele ao telefone

MADRID, 16 out. (EUROPA PRESS) -

O ex-primeiro-ministro Felipe González disse que até hoje ainda tem dúvidas se fez a coisa certa ao não ordenar a explosão da liderança do grupo terrorista ETA no início da década de 1990.

No documentário 'La última llamada', da Movistar, que reúne o testemunho de todos os ex-presidentes vivos e que foi captado pela Europa Press, González diz que, em certa ocasião, foi informado "muito diretamente" de que a liderança do grupo estava reunida no sul da França "planejando os ataques".

Ele foi informado de que os líderes do ETA estavam "perfeitamente localizados e situados" em uma casa e que poderiam até ser "eliminados", de acordo com o ex-chefe do Executivo entre 1982 e 1996.

Ele garante que hesitou e se recusou a intervir por causa de todas as implicações que tal ato, realizado em território estrangeiro, poderia ter. "Trinta e três anos depois, volto a pensar no assunto e mais uma vez tenho dúvidas se fiz certo ou errado", declarou.

O ex-secretário geral do PSOE também admite que, na época, teve dúvidas sobre sua "responsabilidade" e pensou que talvez "50 ou 60 vidas" pudessem ser salvas em um momento em que havia uma infinidade de ataques do grupo terrorista.

"As pessoas não me perdoam por ter dúvidas, nem mesmo alguns de meus colegas", diz ele, embora tenha finalmente se recusado a intervir por causa dos efeitos que isso poderia ter causado.

NÃO HAVIA POSSIBILIDADE DE PRENDÊ-LOS

Não é a primeira vez que González se refere a esse episódio; em 2010, em uma entrevista ao jornal 'El País', ele revelou que teve a oportunidade de eliminar a liderança do ETA, um momento que ele situa entre 1989 e 1990.

Naquela época, disse ele, não havia possibilidade de prisão e a única opção na mesa era "explodir todos eles juntos" na reunião. "A chance que tínhamos de prendê-los era zero, eles estavam fora do nosso território. E a possibilidade de a operação ser realizada pela França naquele momento era muito pequena", disse ele na entrevista.

A ETA AMEAÇOU VÁRIOS ATAQUES SIMULTÂNEOS

Por outro lado, no capítulo dedicado ao ex-presidente José Luis Rodríguez Zapatero - que esteve em La Moncloa entre 2004 e 2011 - ele relata outro episódio relacionado ao ETA, enquanto as negociações entre o governo e o grupo estavam ocorrendo.

Em uma dessas reuniões em Oslo (Noruega), em 2006, o líder do aparato político do ETA, Francisco Javier López Peña, o Thierry, aparece e substitui a pessoa que até aquele momento estava liderando a negociação de parte da quadrilha, Josu Ternera.

"Um ciclotímico, ele era tão rápido em dizer que isso estava feito quanto em dizer que você é como Hitler", não havia como falar com ele", diz o socialista Jesús Eguiguren, que foi o enviado do governo nessas negociações, no documentário.

Eguiguren conta que, certa noite, Thierry recebeu um boato de que o governo queria interromper as negociações e exigiu que ele o colocasse ao telefone com Zapatero, sob a ameaça de explodir uma série de bombas na Espanha no dia seguinte. "Ele me disse que, se as negociações fossem interrompidas, a Espanha seria um Vietnã", lembrou o socialista basco.

Zapatero lembra que o então ministro Alfredo Pérez Rubalcaba - que foi informado pelos emissários de Moncloa - ligou para ele à uma hora da manhã e lhe disse que "as coisas estavam muito complicadas, muito ruins", mas ambos concordaram em não ceder à chantagem e "aguentar".

Acho que foi uma das poucas noites em que passei completamente em branco como Presidente do Governo, sem dormir nada, nem um minuto", disse o ex-presidente que, segundo ele, só se sentiu calmo depois das 9 horas da manhã.

Posteriormente, o ETA rompeu a trégua em 30 de dezembro de 2006 com um ataque no T4 do aeroporto de Barajas, que matou duas pessoas.

Esta notícia foi traduzida por um tradutor automático

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