FREDERIC SIERAKOWSKI // EUROPEAN COUNCIL
BRUXELAS 8 dez. (EUROPA PRESS) -
O presidente do Conselho Europeu, António Costa, advertiu Washington nesta segunda-feira que os aliados não se ameaçam mutuamente interferindo na vida democrática um do outro, ao mesmo tempo em que pediu à União Europeia que assuma que as alianças "não são mais as mesmas" do passado e defenda a força da Europa.
"Não podemos aceitar uma ameaça de interferência na vida política da Europa. Os Estados Unidos não podem substituir os europeus na decisão sobre quais são os partidos certos e errados", disse o ex-primeiro-ministro português em um discurso na conferência Jacques Delors, em Paris.
Dessa forma, o presidente do Conselho Europeu responde à Estratégia de Segurança Nacional apresentada pela Casa Branca na semana passada, um documento no qual a administração de Donald Trump critica a "falta de realismo" da Europa em relação à guerra na Ucrânia e considera prioritário retomar as relações com a Rússia. A nova doutrina de segurança dos EUA também se propõe a "corrigir" o "apagamento da civilização europeia".
"Queremos que a Europa permaneça europeia, recupere seu respeito próprio como civilização e abandone sua abordagem fracassada em favor da asfixia regulatória", afirma o documento dos EUA, antes de citar a guerra na Ucrânia como um caso representativo.
Neste contexto, Costa assume que, uma vez que as declarações do vice-presidente dos EUA, JD Vance, e os vários tweets de Trump "marcam oficialmente a doutrina dos Estados Unidos", a União deve agora "tomar nota e reagir em conformidade".
"Precisamos de mais do que novas energias, precisamos nos concentrar na construção de uma Europa que deve entender que as relações entre aliados e as alianças pós-Segunda Guerra Mundial mudaram", argumentou Costa.
O socialista português destacou que os Estados Unidos "não acreditam mais no multilateralismo, na ordem internacional baseada em regras ou nas mudanças climáticas", o que evidencia as "diferenças" com a UE em relação às suas respectivas visões de mundo, embora tenha reconhecido que os Estados Unidos continuam a se referir aos países da UE como "aliados".
"Isso é bom, mas se somos aliados, devemos agir como aliados. E os aliados não ameaçam interferir na vida democrática (de seus parceiros) ou nas decisões políticas internas de seus aliados", defendeu Costa, que ressaltou que os aliados "são respeitados".
"A soberania de cada um deles é respeitada. Certamente os europeus não compartilham da mesma visão que os americanos em relação a diferentes questões, é natural", argumentou o presidente do Conselho, para em seguida insistir que "a ameaça de interferência na vida política da Europa não pode ser aceita".
Nesse sentido, Costa também argumentou que os Estados Unidos não podem mudar a visão da Europa sobre a importância da liberdade de expressão e quis deixar claro que a história da Europa ensinou que "não há liberdade de expressão sem liberdade de informação" e que a liberdade de expressão é possível onde o pluralismo é respeitado.
"Não há liberdade de expressão se a liberdade de informação dos cidadãos for sacrificada para defender os oligarcas tecnológicos dos Estados Unidos", disse Costa, que advertiu que, para "nos protegermos não apenas de nossos adversários, mas também dos aliados que desafiamos, é necessário fortalecer a Europa".
"Às vezes, o poder da Europa é questionado, mas o que vejo é que há tantas tentativas de minar a Europa que, eu me pergunto, se a Europa não é forte, por que tantos estão tentando miná-la? A realidade é que ela é forte", concluiu.
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